O homem e, por extensão, a sociedade estão sempre procurando um meio de evitar a crise. É o chamado “jeitinho brasileiro”, o jeitinho da acomodação. O Marcelo lembra que a indústria farmacêutica tem na produção de analgésicos e calmantes o seu maior faturamento.
Crises implicam dor, desconforto, insegurança, criam a oportunidade de romper com o passado, abrem a possibilidade do novo. Constantemente, o filho drogado ou com comportamento-droga está criando crises. Quem gera a crise a administra. Esses filhos necessitam de crises, do caos para poder sobreviver no estilo de vida que criaram: o caos. Sem ele estão perdidos!
Reflita: quando os filhos são sempre geradores de crises, nós ficamos somente na reação e não na ação. Temos de criar crises para poder agir, para poder administrar. Ao criar uma crise, precisamos estar compromissados com a verdade, livres dos sentimentos de simpatia e antipatia, isto é, sem raiva, sem sentimentos de vingança, sem revanchismos, sem justificativas. Provavelmente, você vai constatar que seus recursos são limitados. Não hesite em buscar ajuda. Estabeleça metas e as ordene. Comece pelas mais fáceis de ser implementadas, fazendo uma coisa de cada vez. Crie uma cumplicidade sadia com o seu parceiro. Estabeleça pontos de concordância, deixando as divergências para uma etapa posterior.
Converse com o parceiro, procure saber como ele está, o que vive nos recônditos de sua alma. Fale de você, dos seus medos, das suas dores, chore, seja humano. Só não chore diante do filho, pois ele tenderá a manipular esse fato. Anote as suas fraquezas e as vigie. Seja coerente. A incoerência desestrutura o íntimo do homem.
Procure um Grupo de Apoio. Ponha a macro família a par do que está acontecendo e peça sua cooperação. Caso ela não possa ou não queira colaborar, pelo menos que não atrapalhe. Faça duas listas: uma com as qualidades do filho e a outra com as dificuldades. Trabalhar com o positivo é muito mais pedagógico e frutífero. Ao promover as qualidades, restringimos a oportunidade de as dificuldades se manifestarem. Caso se manifestem, corrija-as. O desenvolvimento pessoal comporta a cada instante uma certa renúncia. Ter de escolher, implica viver um processo de tensão: escolha e tensão são inseparáveis (momento de crise). Evitar crises é estagnar o desenvolvimento do Júnior e nosso também.
Hoje nós, pais, encontramos imensas dificuldades em dizer não aos filhos, a impor caminhos coerentes com os princípios que norteiam as relações familiares. Assim, não estamos preparando o Júnior para os “não” da vida, para os momentos de profunda frustração; não os estamos preparando para os ideais da vida.
O não mais educativo é aquele que conseguimos que o jovem pronuncie para si mesmo.
Não tenhamos medo de criar crises para nossos filhos, contanto que não as criemos insolúveis, desleais, injustas, inoportunas e indignas, crises não geradas por um ato genuinamente amoroso. Sem autoridade, jamais poderemos criar “crises construtivas”. Claro que deve haver intimidade e amizade, mas, se não houver respeito à autoridade, o edifício sobe sem alicerces e fatalmente desabará. Ao criar uma crise, devemos estar preparados para a chantagem e o jogo emocional, para as agressões moral, verbal e física, para o desacordo da macro família e da sociedade. Criar crises é um risco? Sim… o risco de dar certo!
Os pais, que querem que seus filhos deem certo, devem escolher a melhor alternativa, mesmo que não seja a mais fácil, para os filhos e para si próprios. Os filhos são um investimento a médio e longo prazo e os pais têm de deixar de tomar decisões a curto prazo a respeito dos caminhos a ser trilhados por eles.
Por Neube Brigagão (in memoriam). Trecho extraído do livro “Mostrar Caminhos” e publicado originalmente na edição n° 190 da RevistAE, em Juho/2015.