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Post: Olinda buscou ajuda e conseguiu acabar com a farsa do filho manipulador

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Amor-Exigente não é apenas para pessoas com problemas de dependência química. Nesta reportagem, veja o exemplo de Dona Olinda, que o AE de Campo Grande ajudou para lidar com comportamento indesejado do filho.


Mãe diz que se culpou por muito tempo e por isso gastava o que tinha com o filho que “queria ser rico”

A dependência química não toma por completo a lista de assuntos discutidas nas reuniões do grupo Amor-Exigente, em Campo Grande. Durante os encontros, há histórias de quem pede socorro até quando o caráter do filho entra em jogo. Com um comportamento que afeta e gera situações inaceitáveis, o jeito é pedir ajuda para não perder a dignidade e conduzir a relação dentro de casa no rumo certo.

No grupo, esse tipo de sofrimento chega às reuniões chamado de “comportamento droga”, situações que afetam em cheio à família, desestabilizam de maneira física e emocional, fazem os pais chegarem ao limite, de um jeito semelhante a quem sofre por ter alguém querido tomado pela dependência química, por isso o termo faz comparação com a droga.

Nas reuniões, todo desabafo é mantido em sigilo, mas a diarista Olinda, de 53 anos, quis falar da sua história para que seu relato sirva de exemplo às famílias que estão em busca de “socorro”.

O filho tornou-se um problema dentro de casa desde os 16 anos, tudo por conta do comportamento. “Muitas vezes ele usava a desculpa de vício em jogos para justificar o comportamento dele. Eu ficava com dó e vivia dando dinheiro a ele. Mas era tudo manipulação”.

Olinda trabalhava dia e noite como diarista para dar dinheiro ao filho. “O meu décimo terceiro, durante muitos anos foram todos para ele”. O filho fazia dívidas intermináveis e com o tempocomeçou a pegar objetos de outras pessoas.  “Tudo porque ele queria ter um dia de vida de rico. No começo, achei que era dependência química, mas percebi que ele só mentia. Ao mesmo tempo, eu me sentia culpada em desconfiar dele e chorava muito de tristeza em ver fazendo isso”.

Olinda não suportou mais e decidiu buscar ajuda. No primeiro passo escutou relatos e experiências muito parecidas com as dela. Depois veio a chance de encontrar as respostas nas raízes culturais da família.

“Meu pai teve 16 filhos, mas comprou uma casa em bairro de gente rica. Continuamos pobres e meu pai deixava claro nossa realidade. Ele era pedreiro, enquanto os vizinhos eram médicos, juízes… Eu entrava na casa do vizinho como empregada e só brincava com as crianças do bairro como babá. Então, tudo que meu pai me ensinou sobre ter consciência da nossa realidade, acreditei que seria do mesmo jeito com meu filho”.

Olinda casou-se com um homem simples, continuou trabalhando como diarista e dando duro para criar os filhos. O que era motivo de orgulho para ela, fazia mal para um deles sem que ela notasse. “E eu não percebia que isso afetava ele, desde a infância”.

Foi quando ela compreendeu, de uma vez por todas, que pais e filhos não são iguais. “Achei que eu estava conseguindo passar para ele tudo que meu pai passou. Mas a sociedade mudou, os tempos são outros. Hoje você vale pelo o que você tem e não o que você é”.

Outro passo foi ainda mais transformador na vida de Olinda, o de estabelecer normas e regras para voltar a viver dentro da própria casa. “Depois de saber o problema, a primeira atitude foi dizer não para ele. Precisava parar de ser a facilitadora, porque estava me matando de trabalhar só pra bancá-lo, enquanto ele era filho folgado”

De cara, dizer não foi o mais difícil, mas com as metas, semana após a semana, ela foi vendo o resultado. “Ele ficou muito bravo comigo. Passou a me agredir com palavras e a me culpar pela vida que tinha. Tanto que ele passou a usar isso contra mim, dizendo que a culpa era minha de ter dado uma vida miserável a eles”.

Mas isso lhe ajudou a entender que não precisava sofrer com a culpa. “Tive cinco filhos na pobreza, mas trabalhei para criar os cinco e nunca mexi nas coisas de ninguém. Por isso,  eu não poderia me sentir culpada, eu fiz o máximo que pude por ele”.

O filho resistiu às ordens da mãe e não abriu mão das manipulações durante muito tempo. Foram meses até o comportamento ser transformado. “Depois de muito falar não, só hoje eu estou começando a colher os frutos da mudança de comportamento. Eu tive que mudar e hoje ele tem conseguido pagar as contas, até me manda os recibos dos pagamentos pelo celular”.

Gestos que parecem muito simples aos olhos de quem não vive o problema, mas são pequenas alegrias no cotidiano de Olinda. “Hoje ele quer mostrar que está mudando e não pede mais dinheiro. É uma alegria tão grande essas coisas, porque foram anos sofrendo com isso”.

A maior dificuldade é lidar com o julgamento. “A família é a primeira a te apontar o dedo, dizendo que ele fez tal coisa porque eu não soube dar educação. Tive dois casamentos que terminaram em brigas por conta do comportamento do meu filho, não é nada fácil. Mas hoje tudo tem melhorado”.

Apoio – São inúmeros casos de pais que relatam esse comportamento dos filhos, mas esse tipo de relação não é exclusiva de uma única classe social, afirma a coordenadora do Amor Exigente, Tânia Cardoso da Cunha, de 64 anos. “Já tivemos inúmeras histórias de pais com situação econômica diferente, elevada, mas que passam pelo mesmo de problema de comportamento e que os filhos são folgados”.

O necessário é buscar ajuda, identificar o problema e promover mudanças, simples, porém transformadoras. “Os pais ficam buscando justificativas, acham que o filho é assim porque anda com fulano, sempre buscam colocar a culpa, ao invés de buscar resolver o problema. Porque no fundo o pai tem esperança que isso vai passar. Mas nem sempre passa e é preciso agir”.

A coordenadora Suzana de Andrade João também explica que além da identificação do problema, a família deve assumir uma posição para não permitir abusos e desrespeitos. “Os pais devem aprender a não polpar os filhos e mostrar a eles que existem limites. Falar não é primeiro passo, o mais difícil também, mas com isso eles aprendem a caminhar com as próprias pernas e os pais conseguem viver”.

Fonte: Campo Grande News

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