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Post: Sem fiscalização, adolescentes bebem livremente nos blocos de rua do Carnaval de SP

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Impossível não se contagiar com o clima de folia que tomou conta de São Paulo com a expansão do Carnaval de rua. Mas não é preciso gastar muita sola de sapato para ver também que tem gente atravessando o samba. Por todo o circuito de blocos, menores de idade transitam livremente com bebidas alcoólicas. Cenas de exageros e de jovens passando mal parecem cada vez mais comuns. A reportagem do UOL esteve em diferentes pontos da cidade durante o fim de semana e constatou que, tanto na venda quanto no consumo, o descontrole é um fato. Assim como a omissão das autoridades.

Na tarde de sábado, com uma garrafa colorida na mão, Luciana*, de 17 anos, conta que há três anos curte o Carnaval de rua de São Paulo. A bebida é uma Corote, mas não a cachaça barata (famosa pelo apelido de barrigudinha, por causa do formato da embalagem). A adolescente desfilava de boa com a nova versão da bebida, um coquetel à base de vodca, com sabor de pêssego.

“Já passei mal, mas hoje aprendi a beber”, afirma a jovem. “Mas há uns três meses dei ‘PT’ (perda total) numa festa”, entrega em seguida.

A amiga Renata, de 16 anos, diz que começou na folia também há três anos. “Já passei mal junto com ela”, admite. Bebendo também uma Corote, mas de sabor blueberry, a menina conta que no Carnaval anterior outra colega da turma (menor de idade) bebeu tanto que teve coma alcoólico. “Acordou no hospital só no dia seguinte”. As bebidas elas compraram por R$ 5 numa adega.

Não pediram documento, mas se pedissem não seria um problema, sempre tem algum amigo com mais de 18 anos para comprar para mim…

Álcool e drogas

A dupla de amigos Maicon e Wilson, ambos de 16 anos, também não enfrentou obstáculos para reunir um verdadeiro arsenal de biritas. “Isso é Ciroc”, explica Maicon, exibindo um copo enorme quase cheio de uma bebida colorida. Wilson saca uma garrafa de uísque barato que escondia atrás do corpo. “E tem mais essa”, disse apontando para uma garrafa de bebida energética, que segurava entre as pernas. “É muito fácil comprar, a maioria nem pede documentos”, garante Maicon. Ele e o amigo já estiveram em outros Carnavais e dizem nunca terem sido abordados pela polícia ou por alguma fiscalização. “Bom, por causa da bebida não, mas por drogas sim”, confessa rindo em seguida. Questionado sobre quais drogas fazem uso, Wilson responde: “Só maconha”. Mas o amigo delata em seguida. “E pó”. Com uma garrafa de coquetel Corote na mão, Mariana, de 17 anos, diz que bebe pouco e que nunca teve problemas. “Minha mãe sempre me ensinou a não beber muito”. Mas ela conta que os amigos nem sempre conseguem ter o mesmo controle. “No pré-Carnaval três colegas passaram mal, mas porque bebem tudo o que encontram pela frente”.

O silêncio da prefeitura

A reportagem passou por dois postos de atendimento médico, um na praça Roosevelt e outro na Praça da República, região central, para verificar ocorrências de atendimentos a menores por abuso de álcool, mas ambos se recusaram a fornecer informações. A prefeitura divulgou ontem que “as equipes de saúde contratadas realizaram no sábado 404 atendimentos”, mas sem distinção de faixa etária.

Receita do caos

“O modelo atual do Carnaval de rua em São Paulo é a receita do caos”, define a pesquisadora e professora do departamento de medicina preventiva da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Zila Sanchez. O crescimento dos blocos de rua acaba aumentando e facilitando para menores de idade o acesso a bebidas alcoólicas, observa a especialista que estuda o problema há 20 anos. “O adolescente vai fazer uso quanto mais fácil for obter a bebida.”

Segundo ela, a facilidade de acesso, que se intensifica atualmente com os blocos de rua, não existia há poucos anos. “Só era possível beber em alguma balada fechada, onde necessariamente tinha que apresentar documento”. Do ponto de vista da saúde pública a situação é grave, salienta a pesquisadora. “A grande discussão neste momento deve ser sobre esse aumento da acessibilidade sem nenhuma medida de controle para impedir ou reduzir o consumo de álcool pelos adolescentes”.

E os impactos para a saúde dos jovens são muitos, alerta Zila. “Quanto mais cedo ele começar a beber, maior a chance dele se tornar dependente na idade adulta”. O álcool decorrente da ingestão precoce traz no futuro um combo de problemas, prossegue a pesquisadora. “Está associado a diversos tipos de câncer, por exemplo.”

Mas ainda na adolescência os problemas associados ao abuso de álcool não são poucos, lembra Zila. Vão dos mais óbvios, como se expor a comportamentos sexuais de risco, até os menos visíveis de imediato, caso, por exemplo, dos prejuízos neurocognitivos. “Compromete muito o desenvolvimento, nesta fase da vida sistemas nervosos estão ainda em formação, por isso é afetado de maneira mais intensa do que se comparado a um adulto.”

O abuso do álcool pelos adolescentes reflete o comportamento dos adultos. Se os adultos exageram na bebida no Carnaval, por que adolescentes fariam diferente? – Sandra Schivoletto, coordenadora do ambulatório de Adolescentes e Drogas do IPq (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo).

Veja a reportagem completa no site do UOL

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