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Post: A problemática romantização do abuso de álcool

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“Tem gente que já tá com o pé na cova/ Não bebeu e isso prova que a bebida não faz mal/ Uma pro santo, bota o choro, a saideira/ Desce toda a prateleira, diz que a vida tá legal/ Eu bebo, sim, eu tô vivendo [bebida não faz mal a ninguém]/ Tem gente que não bebe e tá morrendo”. Célebre na voz de Elizeth Cardoso, o samba “Eu Bebo Sim”, composição de João do Violão em parceria com Luiz Antônio, lançada em 1973, é apenas uma das muitas canções da música popular brasileira que, em clima de festa, celebram o álcool, geralmente associado a momentos de prazer, liberdade, euforia e diversão. Em todo o mundo, do punk ao sertanejo, o que não faltam são músicas que falam de bebedeiras homéricas como algo libertador, divertido e até positivo.

A publicidade faz o seu papel de vender a bebida como algo glamouroso, e o álcool está mais que impregnado na cultura brasileira. Futebol, praia, férias, música, fim de semana, momentos felizes ou tristes, paquera e até enterro: “tomar uma” é sinônimo de ter amigos, ser socialmente aceito e transitar em um universo solar e festivo, afinal, como reza o ditado, não dá para fazer amigos tomando leite. Ser capaz de beber muito é um rótulo que muitas pessoas carregam com orgulho. Tudo o que cerca o uso do álcool é sedutor, repleto de sorrisos e abraços.

Quem não adora Zeca Pagodinho com um copo de cerveja na mão? Dependendo do consumo, beber cerveja, vinho, vodca, cachaça ou gim não é um problema; a fatura chega quando esse uso se torna algo nocivo, prejudicial, e a romantização em torno desse abuso acontece, sim, pode mascarar aspectos graves e deve ser debatida sem moralismos.

“Existe a cultura de normalizar os excessos com o álcool, de ser condescendente, paciente, fingir que está tudo bem, que não há problema”, afirma o médico psiquiatra especialista em dependência química e presidente executivo do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (Cisa), Arthur Guerra. Segundo Guerra, o álcool é uma substância cuja principal função é ser um agente socializador, mas ele alerta que o problema reside quando o consumo da bebida se torna uma muleta social nociva e prejudicial.

A linha entre o uso dito responsável e o abuso é tênue. O consumo abusivo de álcool também pode ser chamado pelo termo técnico Beber Pesado Episódico (BPE), que é a ingestão de cinco ou mais doses (homens) ou quatro ou mais doses (mulheres) em uma única ocasião, pelo menos uma vez no último mês. Uma dose padrão de álcool equivale a 14 g de álcool puro, o que corresponde a 350 mL (uma lata) de cerveja, 150 mL (uma taça) de vinho ou 45 mL (shot) de destilado.

“Esse uso excessivo, quando repetido de forma crônica, pode levar ao quadro de alcoolismo e alterações importantes em algumas áreas do corpo, como fígado e pâncreas”, alerta Guerra.

Para a psicóloga clínica e professora Patrícia Alvarenga, a liberdade que a pessoa sente de poder falar o que ela não falaria se não tivesse consumido álcool é bastante envolvente: “Estamos falando também de um adoecimento quando há essa romantização do consumo excessivo do álcool. As pessoas estão precisando de algo que altere a mente para poder ser feliz, supostamente evitando assim a dor, mas quem passa por uma dor mental muito grande, sem perceber, acaba fugindo da realidade com o álcool”.

Segundo a especialista, é preocupante quando o excesso vira rotina e acaba trazendo transtornos não só para quem bebe, mas também para quem convive com a pessoa. “Os abusos podem deixar cicatrizes e traumas entre familiares, amigos e também no eixo profissional”, comenta Patrícia.


Fonte: O Tempo | Clique para ler a matéria completa.

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