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Post: O momento de recomeçar

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Como os tratamentos atuam na recuperação de dependentes de crack

Inicialmente, é válido ressaltar que não existe um modelo padronizado ou ideal de tratamento; cada pessoa possui necessidades diferentes e múltiplas. “A dependência precisa ser tratada por uma equipe multidisciplinar, com médicos, psicólogos, assistentes sociais, entre outros profissionais”.

“As demandas dos pacientes precisam ser levadas em consideração e deve-se fazer uma avaliação sobre o consumo de substâncias, sobre o estado físico, mental e social”, explica a psicóloga-clínica Andrea Lorena. Além disso, alguns dependentes recebem até auxílio Jurídico, pois se envolveram em crimes, – geralmente pequenos furtos ou roubos – para sustentar o vício.

O acompanhamento médico avalia o estado do organismo da pessoa, pois muitas chegam até mesmo em condições de desnutrição; há dependentes que nem mesmo se alimentam, na ânsia da busca dos efeitos da droga. Devem-se incluir também exames para detecção do vírus HIV, hepatite B e C, tuberculose e outras enfermidades infecciosas, já que muitos pacientes assumem comportamento de risco (como sexo sem camisinha ou uso de seringas não descartáveis) e estão mais suscetíveis a doenças.

Já o suporte psicológico tem como objetivo “desenvolver o programa de tratamento psicoterapêutico e desenvolver uma boa aliança terapêutica para que aumente a probabilidade de aderência ao tratamento”, como explica Lorena. Nas terapias, os pacientes tratam problemas de motivação, desenvolvem estratégias para a resolução de seus problemas e trabalham na melhoria das relações interpessoais. São atividades aplicadas para sua reinserção em família e na sociedade.

 

Abstinência e desintoxicação

Uma das consequências esperadas em qualquer tratamento é a síndrome de abstinência.“[A abstinência] acontece porque muitas drogas ,ao serem usadas repetidas vezes, obrigam o organismo a encontrar um novo equilíbrio para seu funcionamento, incluindo a presença da droga (dependência física)”, explica Ivan Mario Braun no livro “Drogas: perguntas e respostas”, publicado por MG Editores. O entorpecente é reconhecido pelo organismo como parte inerente de certos processos, mesmo com os efeitos negativos que causa.

“Logo, se a droga for abruptamente retirada ou houver uma súbita diminuição da dose administrada, o organismo passa a sentir falta dela, e isso se manifesta, geralmente, por efeitos opostos àqueles causados pela droga”, escreve Braun. Normalmente, os dependentes buscam a droga para amenizar esses efeitos desagradáveis, mas quem está em tratamento necessariamente recorre a alternativas. Para isso, são ministrados medicamentos que possam aliviar os sintomas de abstinência.

No caso do crack, o uso de antidepressivos visa minimizar as consequências do chamado efeito rebote, causado pela falta da substância: depressão, falta de ânimo para qualquer atividade e vontade de usar a droga. Em determinadas situações, o paciente também pode receber calmantes ou tranquilizantes para os quadros de irritabilidade, ansiedade e agitação.

Já a desintoxicação é um termo usado de maneira equivocada. Isso porque a substância não fica por muito tempo no organismo, logo, o paciente não está tecnicamente intoxicado. Assim, cria-se uma confusão a partir dos sintomas por uso prolongado da droga, assim como os efeitos da abstinência.

De acordo com Ronaldo Laranjeira, Flávia Jungerman e John Dunn, autores do livro “Drogas – Maconha, Cocaína e Crack”, publicado pela Editora Contexto, os sintomas de abstinência podem durar de seis a oito semanas (período pode variar entre os casos).

Por isso, o cuidado com o usuário deve ser ainda maior, já que está bastante vulnerável a outro ponto crítico de qualquer tratamento: a recaída.

 

Crise esperada

Uma pessoa que não é dependente de drogas geralmente utiliza alternativas mentais e comportamentais quando se sente deprimida, como ouvir música, navegar na internet, conversar com amigos, refletir sobre a situação e pensar em alternativas, entre outras coisas.

“Para o usuário de drogas, a situação é mais difícil porque a droga é uma saída fácil e rápida para aliviar o desconforto”, explicam os autores do livro “Drogas – Maconha, Cocaína e Crack”.

Apesar de ser um momento delicado, a recaída é comum entre pessoas que estão em processo de reabilitação. Portanto, ela deve ser encarada como uma crise e receber a devida atenção, sem grandes alardes, mas sem ser menosprezada, como atestam os autores. “Ela é uma oportunidade de o usuário aprender sobre as suas situações de risco e tentar conseguir uma recuperação com o menor número de crises possível”.

Portanto, caso o paciente tenha uma recaída, não se deve questionar sua força de vontade, a competência dos profissionais que o estão tratando ou o suporte da família.

É um momento de reflexão, encontrar erros e apresentar soluções.

 

Na saúde ou na doença

A importância do suporte familiar no tratamento.

A situação de um dependente químico também afeta sua família.
São comuns os relatos de pais, irmãos, parentes e amigos que tiveram momentos de tensão com o usuário: pequenos furtos para a compra de pedras, brigas motivadas pela tentativa de impedir a pessoa de voltar a usar droga ou mesmo a expulsão de casa do ente afetado.

Assim como o dependente deve reconhecer seu problema, os parentes também precisam entender que sofrem com a situação. “O primeiro passo da família é reconhecer a dependência do ente querido e, imediatamente, buscar saber como deve ser o relacionamento com ele, não apenas o tratamento”, afirma Carlos Alberto Torres Ribaldo, presidente da Federação de Amor-Exigente, que atua há 30 anos com programas de apoio a familiares.

De acordo com Ribaldo, muitas famílias começam a adoecer com o membro doente, o que acaba por criar uma relação de codependência. “Começa a haver acusações, busca de culpa e de culpados”. A família inicia um processo de dilaceração. “Ela tem que buscar estudar, refletir e agir para que este processo cesse e que ela se fortaleça para ajudar ao membro que necessita”.

A psicóloga-clínica Andrea Lorena afirma que, nesses casos, a família também deve passar por um acompanhamento terapêutico.

“Quando um membro se torna usuário de droga, toda a estrutura familiar fica abalada e podem surgir nos parentes sentimentos como vergonha, impotência, medo do futuro, raiva e ressentimento, os quais também merecem atenção, já que influenciam diretamente no tratamento do usuário de drogas”, explica.

Após o período de tratamento e a volta do paciente para seu lar, é importante que a família e os amigos mantenham um comportamento equilibrado, sem manifestações efusivas. “Este retorno deve ser o mais sereno possível, sem festas, comemorações ou aplausos; Ele deve ser uma volta à busca de uma vida tranquila e sóbria”, afirma o presidente da Federação de Amor-Exigente. Caso seja celebrado como uma vitória, a pessoa pode entender isso como a reabilitação total, mas ela ainda está dentro do processo de recuperação.

 

A união familiar é um fator fundamental para o processo de recuperação de um membro dependente.

A LONGO PRAZO, a recuperação da dependência de drogas, especialmente do crack, é um processo de longo prazo e que requer paciência e compreensão das pessoas próximas ao paciente. As recaídas são frequentes e, em alguns casos, a pessoa volta a consumir drogas.

Há casos de pessoas que passaram por dezenas de tratamentos, desistiram por um momento, mas continuam na luta contra a dependência.

FONTE: Revista A Verdade Sobre – Crack, ed. 1, Editora Alto Astral.

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