A adolescência é uma fase crítica de mudanças biológicas, sociais e emocionais, marcada pelo aumento das chances de envolvimento em comportamentos de risco, como o uso de drogas, bullying e sexo sem proteção. Esses comportamentos podem ter consequências prejudiciais para a saúde e o bem-estar dos jovens. Para entender melhor esses fenômenos, pesquisadores acompanharam 6.391 estudantes de 7º e 8º anos em 72 escolas públicas de seis cidades brasileiras ao longo de 21 meses.
O estudo identificou quatro padrões de comportamentos de risco entre os adolescentes. O primeiro padrão, de baixo risco, inclui jovens com baixa probabilidade de se engajarem em qualquer um dos comportamentos de risco avaliados, como uso de drogas, bullying e sexo sem proteção. O segundo padrão é o de alto envolvimento com bullying, no qual os adolescentes apresentam alta probabilidade de se envolver em bullying, tanto como vítimas quanto como agressores, mas com baixa probabilidade de uso de drogas ou de sexo desprotegido. O terceiro padrão envolve alto uso de álcool e bullying, com adolescentes relatando uma alta probabilidade de consumo de álcool (inclusive em padrões de abuso) e envolvimento em bullying, mas com baixa probabilidade de uso de outras drogas ou de sexo desprotegido. Por fim, o quarto padrão é o de alto risco geral, caracterizado pelo maior envolvimento em todos os comportamentos de risco, incluindo uso de múltiplas substâncias, bullying e sexo sem proteção.
Os resultados destacam a influência de diferentes estilos de parentalidade na probabilidade de os adolescentes se engajarem nesses perfis de risco. O estilo de parentalidade autoritativo, que combina alto monitoramento com alto suporte afetivo, mostrou ser um fator protetor contra todos os padrões de risco identificados. Por outro lado, o estilo de parentalidade indulgente, caracterizado por baixo monitoramento e alto suporte afetivo, mostrou-se eficaz apenas na redução das chances de os adolescentes pertencerem ao perfil de alto envolvimento com bullying.
Outro ponto importante revelado pelo estudo é que o consumo de álcool pela mãe é um fator de risco significativo para o envolvimento dos adolescentes nos perfis de alto uso de álcool e bullying, assim como no perfil de alto risco geral. A embriaguez materna foi associada a um risco quase cinco vezes maior de o adolescente se envolver em múltiplos comportamentos de risco. Isso sugere que a exposição ao abuso de substâncias no ambiente familiar pode facilitar o acesso ao álcool e também influenciar a percepção de risco dos jovens, tornando-os mais propensos a adotar comportamentos arriscados.
A pesquisa ressalta a importância de programas preventivos que promovam habilidades parentais positivas, especialmente em relação ao suporte afetivo e à supervisão/monitoramento, além de conscientizar os pais sobre os impactos negativos do consumo excessivo de álcool. Tais intervenções podem ajudar a prevenir múltiplos comportamentos de risco entre adolescentes, contribuindo para um desenvolvimento mais saudável durante essa fase crucial da vida.